terça-feira, fevereiro 27

Formatura da Fabico (ou A vida não é um crepe de ricota com nozes flambado no conhaque, mas bem que poderia ser)

Como era de se esperar, fui sábado na formatura do pessoal da comunicação da Fabico. Eu conhecia vários dos(as) formandos(as), então era meio inevitável a minha presença. Mas não vou falar aqui dos sentimentos que me acometeram ao ver um monte de gente que entrou junto comigo na faculdade se formando, ou dos momentos cômicos da cerimônia, ou das homenagens ao Gabriel (que, caso alguém não saiba, morreu tragicamente dois dias antes de defender sua monografia), nem das pessoas que revi por lá e das que achei que ia ver e não consegui. Não... Não vou falar de nada disso.

Eu vou falar do crepe que eu comi, isso sim.

Foi na recepção da Débora, a primeira das duas pelas quais passei naquela noite – a outra foi a da Ana Luiza. Bem legal: lugar muito bonito, ambiente bacana, bons amigos, bebida farta e boa comida. Fiquei um tempo mais na manha, só na conversa e na bebida para descontrair, mas uma hora o estômago se manifesta e o guerreiro acaba tendo que repor as energias depois de 3 horas de formatura. O Zeh tava lá, dizendo que o tal crepe era divino, então resolvi passar lá para ver qual que era.

E vi. Uma massa fininha e apetitosa era recheada com uma mistura de ricota com nozes que era uma coisa linda de se ver, que dirá de comer. O cozinheiro fechava o crepe na própria frigideira, com movimentos experientes de braço e ombro, e depositava o conhaque por volta da iguaria para o grande momento plástico daquela já bonita visão. Breves instantes de contato com o fogareiro e voilá: surgia a chama, enorme, flambando o acepipe antes que nossos olhos maravilhados compreendessem de todo o que estava se passando. E daí nos restava o crepe pronto para degustação, tão tangível e comestível que de certo modo seu fascínio quase se perdia depois de uma preparação tão impactante. Até a primeira garfada, é claro – porque o gosto daquilo, acreditem-me, era não menos do que celestial.

Bendita a faculdade que, ao fim de seu curso, leva uma pessoa de bom coração a oferecer aos amigos um alimento de sabor tão sensacional. Depois de anos de salas aos pedaços, currículo embromador, professores embromadores, colegas embromadores e um ar de embromação tão intenso no ar que se torna quase impossível você mesmo não virar um embromador, um crepe de ricota com nozes flambado no conhaque é um consolo dos mais válidos e comoventes. Degustar um crepe desses é celebrar a vida, é comemorar o fim de uma fase importante sem lágrimas e sem remorsos. Quem se importa se os amigos vão indo embora e você vai ficando, cada vez mais sem raízes e sem ter no que se agarrar? Que diferença fazem as hesitações profissionais e as incertezas da monografia? Quem liga se o fim vai chegando mais e mais perto e a gente não tem certeza nenhuma se quer que acabe mesmo ou não? Sim, sentiremos falta de ir no Dacom depois do almoço no RU, ficar ouvindo um som e conversando com pessoas legais enquanto esperamos nossa vez na sinuca. Vamos ter saudade das aulas horríveis transformadas em momentos inesquecíveis graças a uma conversa em folha de caderno ou uma partida clandestina de truco. Lembraremos saudosos dos dias alegres de graduação, quando o fim da estrada se escondia atrás da curva e a moleza parecia que não ia acabar: mas quem liga? Se, no fim do caminho, tivermos a chance de saborear um crepe de ricota com nozes flambado no conhaque, deixar tudo para trás talvez até acabe mesmo valendo a pena.

É. Acho que está na hora de me formar de uma vez.

NOTA DE RODAPÉ: assisti esses dias "À Procura da Felicidade", com Will Smith. Bem bonzinho o filme: história bacana, roteiro bem redondinho (as reviravoltas do protagonista em busca de suas máquinas de tomografia óssea são muito bem inseridas no filme, de modo que se esquece fácil fácil que são no fundo desnecessárias para a história), um direção simples e competente de Gabriele Muccino e uma ótima atuação de Will Smith, construindo um personagem tocante na sua dedicação ao filho e na sua determinação em ter sucesso. Tem alguns momentinhos que beiram o exagero, e é óbvio que reproduz um clichê hollywoodiano típico (o bom moço que supera dificuldades tremendas para conquistar seu quinhão no 'american dream') sem nenhuma tentativa de ousar, mas no fim das contas cumpre o seu papel de entreter uma platéia com muitas e muitas sobras. Nunca esqueçam disso, meninos e meninas: cinema é, antes de tudo, diversão. Bem bacaninha, recomendo.

quinta-feira, fevereiro 15

Breves comentários sobre música na vida recente de Natusch

1) Comprei meu baixo novo. Hooray! É um Ibanez azul e preto, de pintura brilhante, e tem um timbre que me agradou deveras. Foram cerca de dois anos pensando no assunto, estudando possibilidades e torcendo por aportes financeiros que financiassem a empreitada - ou seja, vocês podem imaginar minha alegria. Eu colocaria uma foto dele aqui, se a tivesse tirado - só uma, e bem pequena, que isso não é fotolog. Mas enfim. Ele será bem útil nas gravações da demo da minha banda, que estão em estágio inicial. Aliás, isso até merece um novo tópico, não? Então;


2) Minha banda está no estágio inicial da gravação de sua segunda demo. Gravamos a maioria das guias (que são versões bem cruas das músicas para que especialmente o baterista use de referência na hora de gravar suas partes) na sexta passada, e amanhã de manhã devemos concluir umas coisinhas que ficaram faltando. Em março deve rolar a maioria das sessões propriamente ditas, e num fim de semana desses estarei em um estúdio da zona sul registrando minhas linhas de baixo. Estou feliz desse período ter finalmente chegado, e ansioso para ouvir os resultados. Se vai ser a mais nova sensação do Heavy Metal ou não, para mim não faz muita diferença. Bom eu garanto que vai ficar, de qualquer modo...


3) Algo um pouco mais construtivo e menos auto-indulgente, que fica como dica para vocês. Até agora, o melhor disco que ouvi em 2007 foi lançado em 2005: The Warrior's Code, do Dropkick Murphys. Confesso que desconhecia de todo essa banda: um bando de jovens criados em uma comunidade irlandesa nos EUA, que somaram a seu punk rock um monte de elementos folclóricos e instrumentos como realejo, violino e gaita de foles. É simplesmente genial. Músicas muito bem escritas, letras inteligentes e energia a rodo - ou seja, nada de Blink 182 (perdoem o palavrão) por aqui, pessoal. "The Green Fields of France", aliás, é uma das músicas mais bonitas que ouvi em muito, muito tempo: a narração em primeira pessoa de um cara que senta ao lado do túmulo de um soldado da Primeira Guerra Mundial, conduzida por um arranjo simples de piano. É lindíssimo, realmente comovente. Façam um favor a si mesmos e arranjem esse CD, seja como for. Vale a pena.

sexta-feira, fevereiro 9

Sentimentalismos de uma tarde de fevereiro (ou O dia em que Natusch meteu a mão nos arquivos do Caderno 2)

Passei esses dias envolvido na reorganização do arquivo do Caderno 2.

Tá bom, eu explico. Caderno 2 é um programa de TV desenvolvido pelos monitores que trabalham no Estúdio de TV da faculdade de Comunicação da UFRGS. É tipo uma revista eletrônica, falando de atividades culturais que ocorrem em Porto Alegre. A linguagem, embora descontraída, procura seguir certos preceitos básicos de produção em televisão, e o programa acaba sendo uma grande oportunidade de aprendizado para alunos que querem trabalhar com vídeo e TV em suas carreiras profissionais. O arquivo da nova fase do programa estava bagunçado, e como fico meio sem fazer nada lá no estúdio acabei decidindo fazer algo de útil e botar ordem naquela coisa toda.

Na verdade, o Caderno 2 é um projeto meio antigo dentro do Núcleo de TV, que foi ressucitado em 2005 por um grupo de monitores cansados de ficar por lá sem fazer nada, entre os quais eu me incluo. Uma das coisas interessantes de ficar decupando e arrumando tudo foi perceber a evolução do negócio: no início, éramos bem ingênuos no tocante à edição e tínhamos alguns problemas sérios de linguagem. Com o tempo, fomos pegando o jeito, e saíram de fato algumas matérias bastante boas, embora o formato ainda estivesse meio longe do ideal. Daí, no fim de 2005, quase todo mundo envolvido saiu do estúdio por um motivo ou outro: fiquei só eu, e levou um tempo até reestruturar a equipe e tal. Trabalhamos bastante em 2006, e no meio do ano fomos recompensados: ganhamos o prêmio de Melhor Programa de TV universitário gaúcho no Gramado Cine Vídeo, que corre paralelo ao Festival de Cinema de Gramado. Hoje em dia, estamos em nova transição - mais suave do que a anterior, mais ainda assim cheia de incertezas e de dificuldades que vão se ajeitando com o tempo.

Na verdade, esse negócio de ficar arrumando fita, anotando 'timecode' e descrevendo conteúdo serviu, acima de tudo, para me dar um orgulho danado desse projeto e do que ele conseguiu. Foram dois anos de improvisar, de lutar contra as limitações de material, de buscar soluções criativas onde não tinha dinheiro e principalmente de aprender na marra, fazendo e errando e tratando de acertar na próxima vez. Sou a única pessoa que esteve presente desde a retomada do Caderno 2 até agora, e acho que isso me dá uma perspectiva interessante da trajetória toda.

Muita gente muito boa participou desse projeto em algum momento. Gente que hoje está em outros lugares, e que certamente vai se dar bem no mundo lá fora. Penso na Denise, com quem sempre tive uma interação câmera-repórter espetacular; penso na Bruna, que por um bom tempo ficou no estúdio meio a esmo, mas que quando abraçou o programa se transformou e descobriu que aquilo era o negócio dela; penso na Natália, outra que não sentia nada muito especial por vídeo (ela mesmo me disse algo parecido mais de uma vez) e hoje está cheia de planos para reformular o programa. Penso nos dias em que eu, atolado até o pescoço com problemas de outros projetos, acabei meio que negligenciando o Caderno 2, e mesmo assim ele seguiu em frente e melhorando sempre. Afinal, ele não é um trabalho de indivíduos, e sim de um grupo. E é assim que ele acaba funcionando - às vezes meio aos trancos e barrancos (afinal, somos universitários em processo de aprendizagem, puxa vida), mas sempre em frente até Deus sabe onde.

No fundo, isso tudo é porque eu sei que meu tempo de Caderno 2 está acabando. Estou nesse negócio há dois anos, parte deles como câmera e parte como diretor. Antes, eu era monitor como todos os outros envolvidos; agora, sou técnico do estúdio, com novas funções, tarefas e responsabilidades, boa parte delas incompatível com meu trabalho no programa. De mais a mais, logo nem universitário vou ser mais - devo me formar no fim do ano, drama que vocês provavelmente poderão acompanhar em detalhes por aqui. Pretendo seguir dentro do projeto durante o primeiro semestre, dividindo minhas funções com alguém - até por uma questão de planejamento e de preparar a sucessão, digamos. Mas na metade do ano não vai ter jeito: passo a bola para outro e me aposento de vez do Caderno 2. Nenhum problema, na verdade - tenho certeza que vão se virar muito bem sem mim, provavelmente fazendo um trabalho ainda melhor do que o feito quando eu estava presente. Ninguém é insubstituível, e isso também é a força e a permanência de um projeto - qualquer projeto.

Mas vou sentir falta desses dias, certamente. Como já sinto dos tempos em que eu não decidia nada no programa, apenas pegava a câmera e ia fazer imagens em algum lugar. Como já sinto dos meus primeiros dias no estúdio, quando qualquer trabalho era o máximo e quase todo fim de semana eu arranjava alguma saída de câmera para fazer. Como já sinto de mesmo antes de eu entrar no estúdio, quando eu invadia aquele lugar para ficar olhando os equipamentos e conversando com as pessoas, só porque eu gostava do ambiente e achava que estar por ali era melhor do que a maioria das opções existentes. O tempo está passando, mas de qualquer maneira é bom perceber que, bem ou mal, eu estou aproveitando ele de uma maneira que me parece correta. Tomara que eu sempre possa lembrar do meu passado recente e ter orgulho do que aconteceu nele, do mesmo jeito que agora eu tenho orgulho (e muito) do Caderno 2. Me parece um bom objetivo a perseguir.

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  • Natusch
  • Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brazil
  • Eu não pinto a minha barba.
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